terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dramaturgia Leituras em Cena - Bertolt Brecht




Projeto idealizado e desenvolvido pelo SESC em todo território Nacional, que tem por objetivo estimular a prática da leitura, em voz alta, de textos dramáticos, nacionais e estrangeiros; apoiar a pesquisa dramatúrgica; provocar a reflexão e o debate sobre a importância e o papel da dramaturgia no teatro contemporâneo, além de propiciar o intercâmbio entre artistas, pesquisadores, formadores de opinião e público interessado.
Nesta edição, recebemos para ministrar a oficina do projeto DRAMATURGIA LEITURAS EM CENA Daniel Belquer (RJ), Diretor Teatral, Performer, Diretor Musical, Designer Sonoro, Sonoplasta, Músico Compositor, Arranjador, Multiinstrumentista, Videomaker. Que trabalhou análise de texto dramático, técnicas de leitura encenada e conscientização sonora da fala do ator (método CONSONFALAT, criado pelo professor)

O resultado será apresentado em quatro leituras dramatizadas de textos de Bertolt Brecht.

20h - Teatro - Entrada Franca



20/10
TAMBORES NA NOITE
Direção: Jonatas Rodrigues – Atores Leitores: Everton Britto, Jonatas Rodrigues, Leandro Britto, Patrícia Leite, Priscila de Paula, Wallace Bismark.
“Tambores é um perfeito exemplo da vontade humana. Fi-lo para ganhar dinheiro.” A confissão é do jovem Bertolt Brecht – um mulherengo, anarquista, estudante de medicina, provocador, leitor de Rimbaud, e o que mais houver –, que assim revela o impulso que esteve na origem de sua segunda peça. Afrontando o sentimentalismo, os ideais políticos e as boas intenções filantrópicas, Tambores na Noite exibe – contra o pano de fundo da Revolução Espartaquista na Alemanha do início do século XX – o esplendor de um herói… disfuncional, ou humano, demasiado humano: Andreas Kragler, proletário que, no regresso da frente de combate e do cativeiro em África, hesita entre a rua e a casa, a bandeira e a cama, a revolução e a noiva. A leitura dramatizada de Tambores na Noite, pela Cia Crápula de Teatro, dá livre curso à força criativa da escrita do jovem Brecht, explorando os diferentes ritmos e os registros contraditórios de uma obra que subverte os modelos teatrais da época. Através das técnicas de radionovela a Cia dramatiza uma narrativa folhetinesca abusando de efeitos sonoros para o estimulo à imaginação.


21/10
O CASAMENTO DO PEQUENO-BURGUÊS
Direção: Karina Figueredo – Atores Leitores: Talita Figueiredo, Karina Figueredo, Benone Lopes, Jan Moura, Emanuel Vitor
Bertolt Brecht abre as portas da casa de um casal burguês num dos maiores momentos da nossa sociedade ocidental: a festa de casamento. Mas a hipocrisia vai temperar as aparências e, na medida em que o tempo avançar, os convidados vão desfilar suas mesquinharias e artimanhas próprias do jogo social. Brecht discute a sociedade sem o véu das aparências, levando o público ao riso numa comédia que satiriza os valores capitalistas modernos.

“O Casamento do Pequeno Burguês” foi escrito em uma fase pré-marxista de Brecht, entre 1919 e 1926, portanto, tem mais influência do teatro visto por ele (expressionista) do que das suas teorias do teatro épico, que ainda estavam por vir.

22/10
UM HOMEM É UM HOMEM
Direção: Vera Lúcia – Atores Leitores: Genicleide F. Bastos, Vera Lúcia Santiago Coleta, Tuanny Godoi Piva, Sandra Regina P. Gomes, Nayara Santiago Coleta
Este texto é o primeiro exemplo de teatro didático e pedagógico na obra de Brecht. E para a demonstração de seu teorema, Brecht utiliza um recurso profundamente teatral, que voltaria a usar em muitas peças: a metamorfose em cena. A transformação de Galy Gay, que uma certa manhã sai de casa para comprar um peixe para o almoço, um estivador que não bebe e fuma pouco, de quem, segundo ele mesmo, pode-se dizer é um homem sem vícios (mas que na primeira fala já revela também que é um homem sem opinião), um homem incapaz de dizer "não" e que é em seguida metamorfoseado em soldado e finalmente chegará a negar a sua própria personalidade e identidade (nega ser quem é inclusive diante da própria mulher e chega a assistir ao enterro de si mesmo), para tornar-se um feroz e sanguinário soldado imperialista, é decupada em cenas curtas, espetáculo dentro do espetáculo (sobretudo a célebre e extraordinária sequência da venda do elefante que não existe).


23/10
MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS
Direção: Thereza Helena – Atores Leitores: Frank Cesar Busatto, Ricardo Miguel Azevedo, Leila Sant'Ana, André Branco,
Dani Maiby, Mazé Oliveira
“Mãe Coragem e seus filhos”, considerada por muitos a obra prima de Brecht. Escrita no período do exílio, fala sobre a guerra religiosa na juventude é sacrificada nas frentes de batalhas, as cidades são saqueadas, os soldados não tem a rela compreensão do motivo que os faze matar. Mãe coragem, protagonista da trama vive rodando o país com sua carroça vendendo suprimentos para s sobreviventes da guerra, e faz dela sua única fonte de renda para o sustento dos três filhos, mas não quer que eles sirvam ao exército. A leitura desse texto nos abre inúmeras percepções. Analisamos a história e percebemos a impotência diante de um contexto estabelecido e a necessidade de criar novas realidades.


BERTOLT BRECHT ou O HOMEM E SEU PREÇO


“Eu não sei o que é um homem, tudo que sei é o seu preço”.

“Um homem é um homem”.

(Bertolt Brecht)

Alemanha, 1898 - nasce Bertolt Brecht, dramaturgo, poeta e encenador, e com ele, uma revolucionária teoria de interpretação teatral e seus procedimentos fenomenológicos de encenação do século XX.
Marxista por vocação e dramaturgo por opção, Brecht ao viver o intenso período das mobilizações sociais e os experimentos teatrais de Piscator e Meyerhold, inaugura o Teatro Épico, caracterizado pelo fenômeno denominado “estranhamento” ou “distanciamento”e seu conceito dialético de quebra de narrativa como instrumento de questionamento sobre o que se vê em cena.
Delinea-se em suas personagens uma humanidade elementar, feita de consciência, onde o destino do homem representado é do próprio homem. Ao contrário dos poetas expressionistas, que lutavam por um indivíduo que reencontrasse sua individualidade, excluindo-o da massa, Brecht condena a massificação e debruça-se sobre o homem e sua atitude perante o coletivo.
A proposta do teatro-tese em sua obra propõe a fusão entre a estética e a ética, resultado de sua obsessão pela crítica política, em particular a disparidade do sistema de classes sociais na Alemanha, onde configurava-se a relação de opressor e oprimido.
Em A alma boa de Setsuán, a transformação que sofre a protagonista Chen-Tê no primo Chui-Tá, não é meramente psicológica, quando passa de explorado a explorador – é sobretudo uma mobilização de defesa, pois quando Chui-Tá nos diz, que a miséria é grande demais, para uma só pessoa acabar com ela, ele está nos falando que a grande incógnita da humanidade é o amanhã. E como sobreviver ao desconhecido sem consciência de si?
Bertolt Brecht e seus trabalhos artísticos e teóricos passam a influenciar profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o referência mundial a partir das encenações de sua companhia o Berliner Ensemble durante a década 50.
Nestes tempos atuais Brecht deveria ser apresentado, como catecismo, nas praças públicas das cidades de todo mundo, revelando-nos o que é ser e não somente estar.
(Maira Jeannyse – Encenadora Teatral)