quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Paciência

Em Cuiabá, três da tarde, está um calor do inferno, o trânsito parado, completamente congestionado.

Em fila dupla, um ao lado do outro, estão uma Mercedes, com madame atrás e motorista, e uma Kombi, com um homem todo suado e cara de poucos amigos. O homem xinga a todo momento, buzina, faz uma zona por causa do congestionamento, até que a madame baixa o vidro da Mercedes e diz:

-“A paciência é a mais nobre e gentil das virtudes!” - Shakespeare, em “Macbeth”.

O homem não deixa passar de graça:

-“Vá tomar no c*!” - Nélson Rodrigues, em “A vida como ela é”.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Espectador 2009

Saiu a primeira edição de 2009 da Revista Espectador!
Revista produzida por gente da terrinha, com conteúdo voltado para as manifestações culturais de Cuiabá. Teatro, música, carnaval... tem de tudo lá.
A distribuição é gratuita. Quem quiser garantir o seu exemplar, entre em contato conosco.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Perguntas


Dentro de um trabalho de grupo, experiências diversas se compõem. Cada indivíduo, com sua bagagem de vida, influenciando e sendo influenciado, transforma o resultado da obra em uma composição coletiva costurada por linhas aglutinadoras. O desafio deste processo passa pela revisão da figura do diretor e a aceitação da liberdade de expressão do ator, o qual passa a ser o criador de sua própria arte. A liberdade é válida quando se sabe o que fazer com ela, cada um pode experimentar à sua maneira, improvisar sem uma indicação impositiva, o ator, acostumado a ser mero receptáculo das concepções do autor e diretor, é estimulado agora a ser agente criador de suas próprias concepções.

            Você é [...] um conjunto de velocidades e lentidões entre partículas não formadas, um conjunto de afectos não subjetivados. Você tem a individualização de um dia, de uma estação, de um ano de vida (independente da duração); de um clima, de um vento, de uma neblina, de um enxame, de uma matilha (independente da regularidade). Ou pelo menos você pode tê-la, pode consegui-la (Deleuze & Guattari, 1997, p. 49).

O que estaria por trás de um processo que se pauta nessa nova perspectiva contemporânea? Como se dá o método colaborativo? Como a relação de um trabalho em grupo, com seus pensamentos diversos, é composto e se contrapõe na hora da construção do espetáculo? O que está por trás de um processo de construção de um espetáculo? Quais são seus experimentos, seus exercícios, sua metodologia de trabalho? Qual o papel das teorias clássicas, das formas clássicas e, principalmente, qual papel o texto dramatúrgico assume nas pesquisas pós-dramáticas?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Impostos da produção cultural


A Cia Pessoal de Teatro manda o seguinte recado:

O movimento "Rede Brasileira de Teatro de Rua", está arrecadando assinaturas para uma carta que será enviada para a Funarte, contra o aumento dos impostos da Produção Cultural.

Segue abaixo a notícia:

"Produtoras cinematográficas estão preparando um abaixo assinado para tentar reverter uma mudança fiscal imposta pela Lei Complementar 128, de 19 de dezembro de 2008. A lei, publicada no Diário Oficial da União do dia 22 de dezembro, migrou as empresas de produção cinematográfica e de artes cênicas, assim como as de produção cultural e artística, para outra tabela de tributação. Estas empresas, desde julhode 2007, se beneficiavam do Simples Nacional. Com a mudança, passam a reter 17,52% em impostos a partir de janeiro de 2009, ao invés dos 7% que recolhiam.

O Congresso Brasileiro de Cinema diz que está se mobilizando para reverter a situação. Para a associação, trata-se de "um golpe do governo sem precedentes no meio audiovisual, principalmente num momento em que a crise mundial aponta para uma forte recessão e corte de postos de trabalho em tantos outros setores".

A Carta abaixo foi escrita coletivamente pelos intergrantes da Rede que será enviada a Funarte, relativo ao Decreto 128 (aumentando a tributação da cultura), já foi assinada por inúmeros representantes dos estados, não só do segmento cênicao. Quem quiser assinar, coloque o nome do seu grupo ou movimento e os nomes dos integrantes. Estaremos recolhendo e reenviando para a RBTR.

Grande abraço,
Tatiana Horevicht

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À Funarte

Enviam - lhe esta mensagem grupos e artistas cênicos de 21 estados do Brasil que se manifestam contrários à Lei Complementar número 128, publicada no Diário Oficial da União em 22 de dezembro de 2008.

Atuamos em ruas, praças, escolas e espaços alternativos com a nossa arte pública. Somos artistas-cidadãos que ao longo dos anos viemos nos expressando, reunindo saberes e nos organizando para o exercício pleno do nosso direito ao trabalho, à manifestação simbólica e à construção da identidade do povo brasileiro. Como trabalhadores e trabalhadoras da cultura, reafirmamos a nossa caminhada junto a várias lutas pela justiça, pelos direitos humanos e pela democracia. Celebramos as nossas histórias, músicas e personagens no contato direto com o público de diferentes realidades sociais, culturais e econômicas em todos os municípios do país.

Estamos articulados, mobilizados e organizados através da Rede Brasileira de Teatro de Rua criada em março de 2007, em Salvador/BA,composta por 1.225 grupos e/ou artistas-trabalhadores que é um espaço físico e virtual de organização horizontal, sem hierarquia, democrático e inclusivo. Todos os artistas-trabalhadores e grupos pertencentes a ela são seus articuladores que ampliam e capilarizam, cada vez mais, suas ações e pensamentos. Nosso trabalho é feito de formas diversas: grupos, produtoras, artistas sócios, associações, cooperativas, núcleos familiares, entre outras. Nossas diferentes formas de trabalho têm como principio comum garatir o direito ao acesso aos bens culturais a todos os cidadãos brasileiros, a produção, difusão, formação, registro, circulação e manutenção de grupos e fazedores de arte, construindo assim um país mais justo e igualitário.

Nesta perspectiva solicitamos a revisão da Lei Complementar número 128 que
aumenta a taxa tributária sobre a nossa atividade profissional. Esta medida onera nossa condição de trabalho, cria empecilhos para nossa formalização, intervém em toda a dinâmica da nossa produção, diminui os recursos já escassos para o nosso setor, restringe o acesso a bens culturais e contradiz as diretrizes apontadas pelo Plano Nacional de Cultura.

Reiteramos nossa posição a favor do diálogo e da construção participativa de
políticas públicas integradas que contemplem as diferentes formas de
produção artística.

30 de janeiro de 2009.
Articuladores da Rede Brasileira de Teatro de Rua

Teatro Terceira Margem - Cristiano Pena e Junia Bessa (MG)

Grupo Off-Sina - Richard Riguetti e Lilian Moraes (RJ)

Companhia Folgazões de Artes Cênicas Wyller Villaças (ES)

Teatro Kabana - Mauro Xavier (MG)Gueto Poético - Kuka Matos (BA)

Teatro Ruante - São PauloBuraco d`Oráculo - São PauloLicko Turle - (RJ)

Centro Volante de Assessoria Teatral - Júnio Santos, Jôsy Dantas e Pedro Vinicius - (RN e CE)

Grupo Z de Teatro - Fernando Marques, Carla van den Bergen, Daniel Boone, Alexsandra Bertoli (ES)

Leo Carnevale - Palhaço Xodó(RJ)
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A Confraria apoia essa causa.

Quem também deseja participar do abaixo assinado, entre em contato com a Cia Pessoal:

http://sites.google.com/site/ciapessoal/

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bonecão


Já falamos por aqui de nossa experiência na confecção de bonecos para "O casamento suspeitoso", mas algum tempo depois, na produção da peça infantil "O minhocão do Pari", nos deparamos com um desafio maior, o de criar um grande boneco do minhocão que pudesse ser manipulado por duas ou três pessoas ao mesmo tempo.
Bonequeiros amadores que somos, nos limitamos a pensar na aparência do bichão e pedimos para o experiente bonequeiro Júlio Carcará, da Cia Leite de Pedras, que o confeccionasse para nós.
O resultado foi esse minhocão amarelo, de olho esbugalhado, bocão que mexe e linguinha pra fora. E aí, não ficou legal?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Exposição

A galeria do SESC Arsenal está com uma exposição de Cristina Fortuna e Fredyson Cunha intitulada "A LINHA VAI TECER OS RISCOS DA CONEXÃO".

Cristina e Fredyson são desses artistas múltiplos, que encantam a gente com sua capacidade de fazer de tudo um pouco. Seja no teatro, na dança ou nas artes plásticas, o que pode-se esperar deles são trabalhos autorais autênticos e sensíveis.

Dois confrades flagrados segurando coxinhas e de bocas cheias no lançamento da exposição.


Período da Exposição: 18/01 a 06/03
Terça a Sexta: 14h às 21h

Sábados e Domingos: 16h às 20h

Local: Galeria de Artes do SESC Arsenal

Entrada franca

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Espaços

Mas na verdade, a partir do século XVII, tudo acontece como se o palco italiano fosse tido como uma espécie de realização plena, uma fórmula sem dúvida suscetível de melhorias técnicas, mas perfeita quanto ao princípio e, como que inerente à própria natureza do teatro. Lembrar que o teatro à italiana é, de toda a evidência, um fenômeno histórico equivale implicitamente a constatar que ele é relativo e revogável. Pág. 81

ROUBINE, Jean-Jacques. A linguagem da encenação teatral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.


Confraria teatrando no Largo da Ordem, centro histórico de Curitiba.


Diversas questões permeiam a escolha por um espaço de apresentação alternativo: a questão ideológica, quando o grupo decide democratizar a arte levando-a para o povo onde quer que ele esteja; a questão estética, quando se reconhece que o tradicional teatro italiano não se adequa às exigências de um determinado espetáculo; a questão financeira, quando se descobre as dificuldades de reserva e locação dos teatros tradicionais, etc.

Ônibus, praça, quadra esportiva, piscina, apartamento, galpão... qualquer lugar é lugar pra se fazer teatro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A música no jogo do ator


A música no jogo do ator
Béatrice Picon-Vallin

"Eu trabalho dez vezes mais facilmente com um ator que ama a música. É preciso habituar os atores à música desde a escola. Todos ficam contentes quando se utiliza uma música "para a atmosfera", mas raros são os que compreendem que a música é o melhor organizador do tempo em um espetáculo. O jogo do ator é, para falar de maneira figurada, seu duelo com o tempo. E aqui, a música é sua melhor aliada. Ela pode não ser ouvida, mas deve se fazer sentir. Sonho com um espetáculo ensaiado sobre uma música e representado sem música. Sem ela, - e com ela: pois o espetáculo, seus ritmos serão organizados de acordo com suas leis e cada intérprete a carregará em si" (1).

Assim exprime-se Meyerhold nos últimos anos de uma vida em que sempre considerou sua "educação musical como a base de (seu) trabalho de encenador" (2). Meyerhold aprendeu a tocar piano, e sobretudo violino. Chegou mesmo a hesitar em fazer uma carreira musical, e Chostakovich, em suas memórias, fala dos "remorsos" do grande encenador que, nos momentos mais sombrios dos anos 30, imaginava-se um pequeno violinista tocando seu instrumento com desvelo, em alguma parte da orquestra... (3) De uma grande cultura musical, Meyerhold podia tanto ler uma partitura quanto substituir o maestro de seu teatro ou sentar-se ao piano. É rodeado, ele e seu teatro, de compositores, Gnessin, Prokofiev, Chostakovitch, que tornaram-se célebres, ou de grandes intérpretes, Oborin, Sofronitski. A colaboração com estes compositores foi benéfica para ambas as partes, seja para as pesquisas de Meyerhold relativas à música no teatro, seja para os próprios compositores a quem Meyerhold dava impulsos criadores (conf. as óperas O amor das três laranjas de Prokofiev, ou O Nariz de Chostakovitch) e sobre cujas obras ele refletia ativamente, pensando em montá-las (4). Meyerhold fez igualmente de V. Chabalin (5) um muito interessante compositor de música teatral, através de um trabalho prolongado e rigoroso com ele (final dos anos 20 e anos 30), ao longo de sete espetáculos.

In Le jeu de l'actor chez Meyerhold et Vakhtangov, Laboratoires d'études theatrales de l'Université de Haute Bretagne, Études & Documents, T. III, Paris, 1989. Tradução de Roberto Mallet.