quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Niver da Confra

Em 25 de setembro de 2004 surgiu a Confraria dos Atores. A princípio a companhia era formada por mais de uma dezena de pessoas, todas egressas do Pessoal do Ânima. Com o tempo o número de integrantes foi mudando. Alguns saíram para se dedicar a outros empregos, outros se juntaram a nós durante o caminho, até que chegamos ao grupo atual formado por: Benone Lopes, Emanuel Vitor, Jan Moura, Karina Figueredo e Talita Figueiredo. Gostamos de incluir também o nome do Luciano Paullo, pois, apesar de afastado das atividades teatrais devido ao seu trabalho como professor, é só chamá-lo que ele vem correndo pra dar uma mãozinha.

Apesar de 4 anos ser pouco tempo, já conquistamos diversos amigos e parceiros que têm colaborado conosco em nosso trabalho. Agradecemos a todos que nesses 4 aninhos influenciaram a nossa história: público, ex-integrantes, parceiros de trabalho, parceiros de farra, família etc.
E que venham muitos aniversários ainda!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

2ª MITI


A MITI – 2ª Mostra Internacional de Teatro Infantil de Cuiabá é direcionada ao público infantil e infanto-juvenil e vem para atender aquela premissa básica de que é na infância o momento mais propício para se estimular o aprendizado e o desenvolvimento de qualquer habilidade. E, no caso de uma atividade artística como o teatro, o fato da criança conviver com a arte nos primeiros anos pode ter um significado ainda mais marcante para a sua vida.

A 2ª MITI acontecerá de 06 a 12 de Outubro de 2008 com os seguintes programas:


1) SITISeminário Internacional de Teatro Infantil conta com a parceria dos profissionais das Artes Cênicas da América do Sul debatendo sobre o Tema "COMUNICAÇÃO E CONECTIVADADE NA AMÉRICA DO SUL".

2) MITI ESCOLAO objetivo é proporcionar aos estudantes da Rede Pública e Privada de Ensino de Cuiabá e Várzea Grande a oportunidade de irem ao teatro assistir espetáculos.

3) MOSTRATrata-se de apresentações teatrais de grupos do Brasil e de outros países da América do Sul, aberta ao público em geral com ações descentralizadoras que levam espetáculos a bairros periféricos, praças, salas de Teatro e instituições sociais de apoio a crianças.

4) OFICINAS - As oficinas serão direcionadas não apenas para o entretenimento, possibilitando futuramente a geração de emprego e renda a esses aprendizes. Outro ponto importante é a qualificação dos artistas e educadores que trabalham com a linguagem infantil, onde as oficinas técnicas serão ministradas por profissionais renomados do Teatro Infantil da América do Sul.

5) PROJETO DE MONTAGEM (ESTRÉIA DE ESPETÁCULO)A MITI terá um grande papel de formação, pois é uma incentivadora da produção teatral infantil, que possibilita uma bolsa–incentivo para uma companhia ou artista desenvolver um trabalho de pesquisa e apresentá-lo em Outubro durante a Mostra.

6) MITI AMBIENTAL - Realizaremos uma ação de conscientização nas Escolas Públicas e Privadas de ensino básico e fundamental, através do tema "A Borboleta quer abraçar o lugar onde vivo", com desenhos feitos em aquarela, colagens e criação de borboletas com diversos materiais recicláveis como jornais, papelão, plásticos entre outros. O projeto relaciona a visão da criança com a poluição, limpeza urbana e preservação ambiental de uma forma prazerosa. Todos os materiais confeccionados serão expostos no Museu do Morro da Caixa D'água Velha, Parque Mãe Bonifácia e Pantanal Shopping no mês de Outubro como parte da programação da MITI.

7) LANÇAMENTO DE LIVROSEm parceria com editoras de Cuiabá, a MITI pretende difundir os livros com a temática infantil. Entrega de livros, Tardes de autógrafos, bate-papo com os autores, são algumas das ferramentas que utilizaremos para que todas as crianças participantes tenham acesso à leitura.

8) BRINQUEDO VALE INGRESSOTrocar um brinquedo usado pelo ingresso para assistir os espetáculos é mais uma contrapartida social da MITI. Disponibilizaremos os ingressos para serem trocados por brinquedos usados em bom estado e que serão doados em Novembro, para instituições de auxílio infantil como creches, orfanatos, hospitais infantis entre outros.


Maiores Informações: 3028-6285 / 8409-9630 contato@mostrainfantil.com.br

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sobre defensores e indefensáveis

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, um dos significados da palavra “sindicato” é o seguinte: “associação, para fins de estudo, defesa e coordenação de seus interesses econômicos e/ou profissionais, de todos os que (na qualidade de empregados, empregadores, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais) exerçam a mesma atividade ou atividades similares ou conexas”.

Chamo atenção para a palavra “defesa” empregada na definição acima. Para mim sempre foi claro que o principal trabalho das entidades sindicais era relacionado à defesa dos interesses de seus representados. No entanto, o que se vê em relação ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Mato Grosso – SATED/MT é um pouco diferente. Neste caso, o que se observa com freqüência é o presidente do SATED/MT, Nestor Defletas, tendo que se defender de acusações e reivindicações feitas pelos próprios artistas da classe.

Lembro-me bem que em 2003, época em que eu fazia a transição do teatro amador para o mercado profissional, participei de encontros com diversas companhias de teatro que se mostravam insatisfeitas com a atuação do SATED/MT. As queixas, à época, diziam respeito à cobrança abusiva de taxas dos amadores, às ameaças de embargo de espetáculos e ao fato de que o dinheiro arrecadado pelo sindicato não retornava à classe em forma de benefícios como cursos de reciclagem e oficinas. Muito foi discutido e o assunto até chegou à imprensa, mas aos poucos o burburinho diminuiu. Desanimamos ao perceber o tamanho da burocracia que teríamos de enfrentar para eleger um novo representante no sindicato.

Mesmo não tendo nossas demandas atendidas naquele ano, eu e meus colegas seguimos em frente e acabamos por nos acostumar a trabalhar sem qualquer apoio do sindicato. Hoje podemos nos orgulhar por termos crescido bastante enquanto artistas e empreendedores. A cena cultural da cidade desenvolveu-se de lá pra cá com novos cursos, novas companhias e novos fóruns de debate que se abriram para nós. O Movimento de Teatro, fórum criado por artistas de teatro, por exemplo, destacou-se por ações como a criação da Mostra Curto-Circuito de Teatro e a participação direta na elaboração do mais novo Edital da Lei Municipal de Cultura de Cuiabá.

Porém, entre avanços e novos desafios, a questão da representatividade do nosso sindicato continuou pairando sobre nós. Dispostos a retomar o debate com a entidade, convidamos este ano Nestor Defletas a se reunir com a classe para discutir sobre a criação de uma tabela de preços para a categoria. Ele se dispôs a marcar uma reunião com o Movimento de Teatro, que logo tratou de definir a data, o horário, o local e convocou os interessados. Para nossa surpresa, quando tudo parecia acertado, dois dias antes da reunião, Nestor resolveu recuar do convite alegando que não havia sido comunicado de que se tratava de uma reunião do Movimento de Teatro e que dessa forma ficariam suprimidas a plenária da categoria e a pauta antes proposta.

Gostaria de dizer que fomos surpreendidos pelo ato cínico e desrespeitoso escolhido pelo nosso “representante” para fugir do debate, mas a verdade é que esse tipo de comportamento defensivo tem sido uma constante no trabalho de Nestor. Resta-nos, novamente como há cinco anos, dar continuidade aos nossos trabalhos sem a perspectiva de qualquer apoio do SATED/MT. Certamente estamos frustrados, mas nós artistas não esmoreceremos diante dessa resistência. Até porque, verdade seja dita, se por um lado o SATED/MT não nos representa de fato, por outro lado ele tem o mérito de provocar a união dos artistas. Digo isto, pois artistas de idades, estilos, linguagens e métodos variados fazem uníssono quando o assunto é a defesa dos interesses da classe contra as contradições e burocracias do nosso querido sindicato.

A atuação do próprio Movimento de Teatro e a criação da Cooperativa de Comunicação, Cultura e Arte – COCCAR são alguns sintomas de que a classe não está esperando de braços cruzados que as coisas melhorem sozinhas. A abertura de cooperativas, fóruns, associações, coletivos etc., sinaliza a busca da classe por mecanismos diversos de representação. Felizmente, o artista de artes cênicas de Cuiabá pode vislumbrar hoje um horizonte mais amplo de entidades abertas ao diálogo e comprometidas com o desenvolvimento do nosso mercado de trabalho. Diante dessa conjuntura não é de se admirar que muitos profissionais recusem-se a pagar as mensalidades do SATED/MT por entenderem que não há vantagem nenhuma na sindicalização.

É claro que os avanços são lentos e os percalços muitos, mas pela defesa de interesses coletivos e legítimos todo trabalho vale a pena. Com esse pensamento continuaremos avançando, sempre prontos para nos defender de quem quer que esteja atrapalhando o desenvolvimento de nosso trabalho, mesmo que isso signifique fazer oposição à entidade que deveria estar ao nosso lado nos auxiliando na defesa de nossas causas.

Talita Figueiredo

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

NEM VEM QUE NÃO TEM: O TEATRO QUE FAZ RIR E PENSAR


Matéria publicada na edição de setembro da Revista Espectador

Por MARCOS RELVAS*

Sou advogado na área empresarial há muitos anos e indignado com a burocracia estúpida que medra no Brasil associada a uma prática na área tributária que mais se aproxima de um estado feudal do que de um Estado Democrático de Direito que é o que diz a nossa Constituição Federal que deveríamos ser, venho tentando chamar a atenção da sociedade para se mobilizar contra essa situação que atrasa o desenvolvimento de nosso país e onera desnecessariamente a vida de cada cidadão.
Para tanto faço parte de ONG, atuo como voluntário na OAB/MT, fundei a Associação Mato-grossense de Contribuintes, escrevo artigos em sites e jornais, faço palestras, faço denúncias ao Ministério Público, movo ações no judiciário e observo que os assuntos burocracia, carga tributária e legislação fiscal são complexos, pouca gente se interessa e muito menos ainda compreende o alcance de minhas críticas.
Desta forma observo que não há mobilização, por falta de compreensão do tema e falta de percepção de que o prejuízo por essa inércia é de todos: empresários que vêem sua atividade ameaçada não empregam mais pessoas, deixam de gerar mais riquezas e todos pagam o preço desse tributo absurdo que é retirado da sociedade sem qualquer retorno digno.
Já sem saber que argumentos utilizar para demonstrar esse problema e quase desistindo da luta, pensei em produzir uma peça de teatro temática que pudesse abordar de forma sintética e engraçada uma parte desse assunto e quem sabe transmitir a questão por uma outra linguagem que pudesse atingir a consciência das pessoas.
Apesar do exotismo da idéia, principalmente partindo de um advogado que nunca teve outro contato com teatro a não ser como espectador, segui em frente, elenquei alguns tópicos que entendi que poderiam ser teatralizados (todos tirados de fatos reais) e após algumas tentativas com alguns grupos teatrais encontrei a Confraria do Atores.
De imediato se entusiasmaram com a idéia e rapidamente me apresentaram um projeto (muito bem feito por sinal) e traçamos um plano de ação. O grupo mergulhou num trabalho de pesquisa sobre o tema (que é árido até para advogados) e após alguns meses de troca de materiais, informações e reuniões saiu a primeira versão do texto teatral.
Fiquei surpreso quando fizemos a primeira oficina na sala de reuniões do meu escritório e após alguns ajustes no texto o grupo entendeu que já poderia começar a ensaiar a peça.
Passamos mais alguns meses para conseguir agendar a sala de teatro que entendíamos ser o melhor lugar para a estréia. Após a intervenção de alguns empresários finalmente conseguimos marcar a data.
Data marcada, comecei a busca de patrocinadores do material que seria utilizado no palco, figurino, assessoria de imprensa, material de divulgação, convites e outros detalhes.
Consegui quase tudo e o restante coloquei na conta do meu Escritório de advocacia sob o olhar cético, mas sem discordar da idéia, dos advogados associados.
Tive uma ajuda extraordinária dos estagiários do Escritório nas pessoas do Willian e do Valeriano que cuidaram de muitos detalhes e ajudaram na divulgação.
Tudo pronto e nem o pessoal da Confraria dos Atores muito menos eu sabíamos como seria a acolhida de um convite para uma peça como essa, já que esse tipo de trabalho temático e segmentado era uma novidade também para o grupo. Estávamos todos diante de uma grande e nova experiência.
Apesar do excelente trabalho de nossa assessora de imprensa, cedida pelo FOREMAT (Fórum dos Empresários de Mato Grosso), Sra. Honéia, minha expectativa era que se comparecessem cerca de 80 pessoas eu daria o trabalho como um sucesso.
Pois bem, o problema acabou sendo outro, porque o teatro ficou lotado, todos os 250 lugares, e ficaram mais de 70 pessoas para fora, razão pela qual conseguimos junto à administração mais uma apresentação em seguida para aqueles que de forma abnegada ficaram do lado de fora aguardando. Foi um prêmio para todos nós essa acolhida.
Melhor que isso foi acompanhar na saída das duas apresentações os elogios pela iniciativa e principalmente a alegria de empresários, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, funcionários públicos e toda gama de profissionais relatarem o quanto se divertiram e o quanto foi ilustrativo para se compreender a problemática abordada.
Parece que finalmente encontrei a linguagem que fala diretamente para corações e mentes das pessoas, mesmo sendo um assunto árido e sem graça, verifiquei que com o talento e a competência demonstrados pela equipe da Confraria dos Atores é possível com qualquer tema fazer rir e fazer pensar.
Minha esperança é que, diante das solicitações de novas apresentações, tanto em Cuiabá como em cidades do interior, a consciência sobre esse problema aflore na sociedade para se mobilizar contra esse estado de coisas e de quebra tenham momentos de descontração e alegria, desfrutando do extraordinário talento dos atores da Confraria no palco.
Gostaria ainda de deixar registrado meus sinceros agradecimentos à Confraria dos Atores por ter acreditado nessa idéia e ter se dedicado na realização de um trabalho tão bem feito.
Vale registrar também o apoio incondicional da OAB/MT ao trabalho e a coragem das empresas e entidades empresariais que fizeram estampar suas logomarcas como patrocinadores do evento. Digo coragem porque sabemos que, neste estado feudal em que estamos inseridos, estão sempre prontos para retaliações e perseguições contra aqueles que contrariam seus interesses pessoais e ideológicos.
Finalmente gostaria de disponibilizar meu contato e da Confraria dos Atores para empresas, entidades ou pessoas interessadas em promover uma apresentação da peça “Nem vem que não tem” e dizer, apesar de ser suspeito, que vale a pena!

*Marcos Relvas é advogado do Escritório Relvas & Associados Advocacia, Presidente da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/MT e Presidente da Associação Mato-grossense de Contribuintes.
Email: marcos@relvas.adv.br
Fone: 65 – 3023-4070
Confraria dos Atores – contato: Jan Moura – fone: 65 8407-1184

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

SOBRE PARAFUSOS E CÂMARAS TEMÁTICAS

Assinam esse artigo: Espaço Cubo, CUFA, Wander Antunes, Volume, Confraria dos Atores e Movimento Panamby

Às vezes somos levados a pensar que grandes obras de arte são produzidas sem nenhum esforço por parte de seus criadores, esses seres geniais. E temos essa percepção porque, muitas vezes, seus autores são os primeiros a negar qualquer nível dele em suas realizações. Geralmente estão enganados, ou fazendo charme, porque, vamos combinar?!, nada de bom acontece sem que algum nível de esforço tenha sido empregado em algum momento. Mas o que de fato acontece é que quase sempre, dada à paixão envolvida, seu realizador nem percebe o quanto investiu, o quanto se superou para chegar ao resultado de um determinado trabalho. Coisa de quem faz o que gosta.

E se o mundo está repleto de grandes obras desenvolvidas individualmente também há grandes obras empreendidas por um coletivo, embora muitas vezes, por uma enorme injustiça, ela não seja percebida como tal. Uma grande obra coletiva é essa que os artistas cidadãos vêm realizando em Mato Grosso. Eles têm suado a camisa para levar boa música, bom teatro, boa literatura, bom cinema, a leveza da dança, para levar alegria e reflexão, para ampliar os horizontes, enfim, de todos os que vivem nesse estado. E, no entanto, a importância e alcance de seu projeto estético-social muitas vezes não é percebida, não é defendida e não é compreendida.


E essa incompreensão ocorre, muitas vezes, por parte daqueles que têm o dever de perceber e ampliar o alcance social dessa grande obra coletiva, até por conta dos papéis que assumiram, das posições em que se colocaram. Posições pelas quais quase sempre lutaram arduamente, mesmo quando alegam tê-las assumido quase à revelia, apenas para atender ao tantas vezes evocado clamor popular. Que nada! Em 99% dos casos o que fizeram foi suar a camisa para ocupar posições de mando. E quem suou a camisa para obter o poder de tomar decisões em nome de uma comunidade perde o direito à incompreensão, perde o sagrado direito à ingenuidade e à ignorância. Suas decisões trazem conseqüências, boas ou nefastas para o coletivo. O que não significa dizer que não tenham o direito de errar – que é humano – aqui e ali, quer dizer que precisam ser bons ouvintes, que devem migrar do erro pro acerto o mais rápido possível. Para acertar mais e errar menos é preciso ter apoio, aprender com a experiência do outro. Ninguém sabe tudo.


Eventualmente, na vida privada, o indivíduo que se especializou em uma determinada função pode até se dar ao luxo, o que quase sempre se revela má idéia, de se beneficiar menos da experiência dos outros. “Eu faço parafusos muito bem feitos, com eles pago meu caviar e ponto final, ninguém tem nada com isso”, podem dizer e ir tocando suas vidas. Na vida pública não! O personagem que se proponha a ocupar esse espaço não pode se dar ao luxo de entender só de parafusos. Por isso quem ocupa espaços públicos deve cercar-se de boa assessoria. E pra além dela, recorrer àqueles membros da comunidade que possam contribuir para a compreensão de um determinado tema.


A Assembléia Legislativa de Mato Grosso fez isso ainda há pouco, quando convocou uma Câmara Temática de Cultura para “estabelecer um canal de diálogo entre os governos municipais, estadual e federal, visando à estruturação de um planejamento voltado para o fortalecimento da política cultural do estado, respeitando as características de cada município”. Entretanto, seja por questões regimentais, seja por não ter permitido assento a um representante indicado pela comunidade cultural, a AL, também conhecida como “Casa do Povo”, não abriu espaço nessa câmara temática para as valiosas e generosas contribuições que a comunidade cultural poderia oferecer. E os cinco membros dessa câmara, três servidores da própria AL e dois outros indicados por deputados, fizeram, após uma série de oitivas, recomendações contraditórias, com destaque para a de número 6, totalmente desastrosa.


E porque essa apreciação aparentemente tão negativa do trabalho da câmara temática? Porque, para começar, a bela introdução, em parte, que abre o documento não parece ter sido escrita por quem fez as recomendações nele contidas. Convenhamos, quem constrói o pensamento reproduzido a seguir não poderia concordar com a recomendação de descontinuar ações culturais, feitas mais adiante pela câmara: “O século XXI nasceu com o desafio de ir além do reconhecimento antropológico da diversidade cultural como maior patrimônio da humanidade. Não se trata de abandonar a contínua tarefa de reafirmação deste princípio – trabalho constante de pesquisadores e educadores – mas de agregar a essa tarefa a urgência do enfrentamento de sua dimensão política e econômica. Para tanto, necessita-se fortalecer os conceitos que sustentam os discursos e transformam a palavra em ação, para que se consiga a transformação desejada”. E, de fato, uma rápida pesquisa no Google demonstrou que a parte constituída por idéias maiúsculas dessa introdução, como o trecho reproduzido acima, não pertence aos membros da câmara, fora fruto do velho e bom control C/control V. Ou seja, primeiro a gente copia, depois a gente cola – prática comum em trabalhos escolares realizados por alunos preguiçosos. E se por um lado não passa pela cabeça de ninguém afirmar que a câmara temática tenha sido preguiçosa, ou pretendeu que a reflexão de outro fosse tomada como sua, conclusão a que alguns podem chegar já que ela não citou a fonte, também é verdade que, e isso passa sim por nossas cabeças, ela foi de uma monumental deselegância ao omitir o autor do texto: o Prof. Dr. José Márcio Barros, da PUC mineira. E também é verdade que, uma vez não tendo o citado José Márcio Barros tomado parte nessa câmara, talvez seja melhor esquecermos a introdução, até porque ela parece pouco sintonizada com as recomendações propostas, bastante reveladoras daquilo em que seus membros parecem realmente acreditar, sobretudo a sexta delas: “Os Projetos aprovados não poderão ser contemplados no exercício subseqüente”. Uma recomendação em total contradição com outra feita pouco antes, a que propõe prioridade na “aprovação de projetos pela contribuição que os mesmos possam proporcionar ao desenvolvimento cultural de nosso Estado”. Mas a descontinuidade desses projetos no ano seguinte, mesmo quando seus autores entendam que eles devam ter continuidade – já que projetos aprovados não poderão ser ‘contemplados’ no exercício subseqüente – não equivaleria ao desmonte de ações capazes de proporcionar o desenvolvimento cultural em nosso Estado? A idéia é essa? Mato Grosso ganha com isso? Ou, fazendo uma leitura simplista e certamente equivocada da coisa, o que se quer é reduzir tensões, garantindo um rodízio de proponentes?


Essa proposição de descontinuidade não se aplica, parece-nos, às ações institucionais, como, a título de exemplo, as empreendidas pela UFMT – cuja coordenação cultural atualmente está sob o comando de Fabrício Carvalho, também membro da câmara temática a convite do deputado Alexandre César – que certamente consideraria uma violência a interrupção de suas temporadas de concertos sinfônicos ou de suas outras ações culturais de caráter continuado. Mas infelizmente, e talvez inconscientemente as recomendações da câmara temática traduzam isso, é como se fora do mundo institucional, hierarquizado e até, em não poucos casos, controlado politicamente, não houvesse proposição digna de continuidade. E tem! Sim, elas existem! Talvez excessivamente livres, dirão alguns. Que vulgares! Torcerão seus narizes os adeptos da elegância vazia. Mas que grau de controle exercemos sobre isso? Perguntarão outros, em seu secreto desejo de controlar o mundo. E a todos eles precisamos dizer que fora do mundo institucional existem proposições da maior importância em curso, cuja continuidade deve ser assegurada. E é preciso dizer que todas essas ações, quando analisadas em conjunto, constituem uma grande obra coletiva – uma ação meio que complementando outra.


Só que ao contrário dos grandes gênios, aqueles do começo deste texto, que ou não notam ou não admitem o grau de esforço que fizeram, os artistas mato-grossenses sabem o quanto lhes custa empreender suas ações, realizar suas obras. Dificuldades que não se manifestam no fazer em si – e quando se apresentam são bem-vindos desafios enfrentados com prazer, são um convite ao crescimento –, elas estão na já mencionada ausência de resposta daqueles que deveriam compreender a importância social de sua ação e apoiá-los. E eles só têm a lamentar que uma câmara temática (à qual parece faltar um parafuso, ou talvez algum esteja meio frouxo) se reúna e ao fim recomende a descontinuidade do apoio a suas ações, mesmo que elas tragam grande contribuição ao desenvolvimento artístico e cultural do estado.