quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O VAZIO ASSUSTADOR








'Um corpo destreinado é como instrumento desafinado, em cuja caixa de ressonância há uma barulheira confusa e dissonante de ruídos inúteis, impedindo a audição da verdadeira melodia. Quando o instrumento do ator, seu corpo, é afinado pelos exercícios, desaparecem as tensões e os hábitos desnecessários. Ele fica pronto para abrir-se às ilimitadas possibilidades do vazio. Mas há um preço a pagar: diante desse vazio desconhecido surge, naturalmente, o medo. Até mesmo um ator de larga experiência, sempre vai retomar seu trabalho, quando se vê na borda do tapete sente esse medo de voltar - medo do vazio dentro de si mesmo e do vazio dentro do espaço. (...) Sentar-se imóvel ou ficar quieto já requer muita coragem. A maioria das manifestações exageradas ou desnecessárias provêm do pavor de não estarmos realmente presentes se não avisarmos o tempo todo, de qualquer jeito, que de fato existimos. (...) É importante que todos os atores reconheçam e identifiquem tais obstáculos, que neste caso são naturais e legítimos. (...) Quando atua bem, não é porque elaborou previamente uma composição mental, mas porque criou um vazio livre de pânico dentro de si.'

Peter Brook - A Porta Aberta

Um comentário:

Benone Lopes disse...

Em determinadas oficinas, quando o oficineiro pede: "fiquem parados"... Eu quase sempre mexo o joelho...
Dessa situação, e do texto, penso que não estou controlando o meu corpo. Dentro de mim parece existir duas vontades, uma é aquela que eu imagino fazer; a outra é o medo...
Agora essa segunda vontade tem nome.