sábado, 15 de dezembro de 2007

PRA QUE SERVE O TEATRO?


(Teatro-Estádio-Olimpo, Canudos)

Foi publicado no overmundo, esse fabuloso texto de Osvaldo Costa, que descreve a passagem de Os Sertões de Zé Celso pelo nordeste, nas cidades de Quixeramobim e Canudos. Uma grande colaboração, indo muito de encontro com o que pensamos sobre a funcionalidade da arte. Vale a pena ir até o overmundo e ler o texto na integra.

"No primeiro dia, espanto e admiração eram evidentes nos olhares da platéia. Grande parte dela sequer tinha assistido a uma peça teatral. "

"O dia seguinte foi recheado de comentários sobre a estréia do espetáculo. Nos bares, nas padarias, nos lugares cotidianos o assunto era o mesmo: a peça e a nudez. Opiniões divididas, mas Teatro lotado. Todos queriam ver. Estima-se que quase a mesma quantidade de pessoas da capacidade do Teatro ficou de fora, esperando alguma desistência.
Lá dentro, a peça contava a fundação e a formação do Homem até as multideterminações étnicas do brasileiro e do sertanejo. “ O tipo brasileiro é um tipo sem tipo”, bradavam os atores."

"No dia após a segunda parte, os comentários dos quixeramobinenses giravam em torno de muitos assuntos da peça, mas paravam, principalmente, em um só: a Buceta de Pandora ou Oráculo Vaginal, a cena em que uma atriz simula um monólogo com sua vagina enquanto a imagem focada desta é projetada no telão. Na fila para o terceiro dia, o bom humor cearense dava sua marca: “Já vi isso[ a vagina] fazer muita coisa, agora falar foi a primeira vez”, comentava um senhor."

"Último dia de espetáculo. Sente-se em Quixeramobim um clima saudoso e doído. Apesar de algumas resistências, a população foi se envolvendo com a história de seu mais famoso filho. “ Esse lugar não será o mesmo”, ouvia-se de diversas bocas.
Na quinta noite, o espetáculo iniciou-se fora do Teatro. O público entrava de mãos erguidas e era revistado pelo Exército Republicano. Euclides chegara ao cenário da Guerra. As vicissitudes dos últimos embates são mostradas de modo contundente e emocionante. Conselheiro morre em cena dirigida por Glauber Rocha. Ao final, com muitos da platéia em lágrimas, escuta-se o coro cantar: “ Ah! Sertão/ tão sem ser/ sertão/ Rocha Viva/ Voando,ando/ Ser estando, ser estando.../ Serestando... Tão sem ser...”

"Os Sertões levou “1968”, Oropa-França-Bahia para Quixeramobim. Não em um compartimento, mas em uma magnífica espiral de tempo. O sertão cearense retoma questões cruciais: a sexualidade, o corpo, a paixão pela vida. Tudo sob uma ótica singular.
Nunca um evento causou tanto impacto na Região. Após Os Sertões, pastores evangélicos foram protestar na Câmara Municipal e nas rádios locais; jovens fundaram um grupo de teatro; todas as edições dos livro de Euclides foram emprestadas da Biblioteca Pública; foram promovidos mais de dez debates na rede pública de ensino sobre a peça e o livro; a sexualidade e o corpo tornaram-se temas centrais nas rodas de conversa da cidade, seja na praça ou nas igrejas.

Definitivamente, Os sertões inseriram Quixeramobim no cenário cultural do Ceará. Passado vinte dias do fim da temporada, a cidade ainda respira o assunto, o que ratifica todas as suspeitas: o espetáculo está para além de um evento, ele ficou entranhado no afeto dos quixeramobinenses, revirando desejo, incomodando morais, fazendo pensar, serestando..."

Leia o texto na integra em:
http://www.overmundo.com.br/overblog/os-sertoes-em-quixeramobim-e-canudos

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